domingo, 11 de dezembro de 2011

A situação social da mulher

Hoje em dia não estou atuando com projetos especificamente no universo feminino, mas durante muitos anos trabalhei  com grupos de mulheres, nas comunidades carentes, exercendo meu papel como  assistente social.

Comecei com grupos de mães de crianças ligadas ao projeto de Recreação Infantil. O meu  principal foco  era acompanhar os seus  responsáveis bem como todos  familiares. Depois de algumas mudanças, esse  projeto inicial foi extinto,  criei então  um" Grupo de Mulheres ", e aí fiquei mais um bom tempo ouvindo a mulherada. Confesso que foi para mim uma grande experiência de vida.
  

Gente! Mulheres reunidas, quanta loucura!!!!!!!!!!!!!! Cada uma trás  dentro de si  mais ou menos 5  tipos de mulheres diferentes e como eu  ficava numa sala com 10 ou 15 "meninas", tinha no mínimo,  50 mulheres soltas num espaço, falando, gesticulando, desabafando,  chorando, gargalhando, enfim se expondo de mil maneiras, porque  a mulher, de um modo geral,  tem a capacidade de ser única e ao mesmo tempo  múltipla, e aí tudo acontece, vira uma festa, uma feira, e até um ringue... sai de baixo que o bicho pega... é uma galera de respeito. 



Cabe a nós,profissionais, que possuímos um certo conhecimento,  mantermos  o equilíbrio e ao mesmo tempo uma certa  preocupação com  a  pauta em questão, afinal estamos coordenando uma reunião técnica, que nos obriga ficar atentas ao nosso compromisso e atuação profissional, portanto,   não podemos  deixar  rolar simplesmente. Temos nossos objetivos e  nosso comprometimento com o social. Tudo bem, isso é realmente muito  importante, mas é necessário também termos  habilidade, inclusive nas nossas intervenções, porque precisamos sim,  manter o foco das questões levantadas, mas ao mesmo tempo, devemos permitir que  elas naquele espaço, tenham a liberdade  e a oportunidade   de  se expressarem, de serem ouvidas, respeitadas  como pessoas e  cidadãs. Elas estão discutindo a vida delas, na realidade em que vivem e é neste espaço ,  na reunião, que elas  se sentem autoras de suas histórias e  é ali, naquele momento que surge a  oportunidade de juntas trabalharem seus sentimentos, seus desejos e aspirações. 

Temos que  vigiar, mas não podemos nunca  deixar passar a oportunidade delas se colocarem , porque  muitas vezes,  é a chance que pinta para que  através de uma reflexão, de uma análise em conjunto, de algum assunto levantado dentro do grupo, que elas encontram   formas para solucionar questões da vida delas e do grupo e até da sociedade de uma forma mais ampla.

Na verdade é na  reunião  que elas pensam juntas, discutem, debatem, aprovam e reprovam, enfim, se inserem literalmente  nas situações que estão sendo  discutidas, isso é que é o mais importante, passam a ver os problemas de forma mais abrangente, têm a oportunidade de assumir  e  de decidir de forma coletiva. É esse o ponto, a nossa luta, nosso maior desejo, que elas se encontrem, que sejam capazes de pensar e assumir. Muito lindo, sou apaixonada por minha profissão, que delícia!!!!!!!!! 
No início de minha atuação profissional, sem nenhuma  experiência de vida e cheia de informações acadêmicas na cabeça, chegava na reunião,  com uma pauta organizada, um caderno para anotações para posterior elaboração  do relatório e  de  olho na marcação do horário, quesitos sagrados! Sem esses instrumentos,  a reunião,  na minha opinião,   seria um tremendo fracasso, essa era a visão que eu tinha do trabalho em grupo, instrumentos e técnicas de mãos dadas, postura profissional e nada de intimidades. E assim fui até que me descobri  como mais  uma mulher no grupo,que coisa boa, era o que faltava, só isso...simplesmente isso - a pedra fundamental para um resultado incrível para mim e para elas.
Depois dessa descoberta, cortei atalhos, simplifiquei caminhos, me aproximei e conquistei o GRUPO DEFINITIVAMENTE!!!!!!!!!!!! ÔBA,ÔBA,ÔBA!!!!
Percebi em tempo, que o simples, o real, e a autenticidade de nossa conduta,  são sem dúvidas, os principais instrumentos para ganharmos a confiança, o respeito e a admiração daquelas mulheres tão sem voz em casa, no trabalho e na vida. Dei a elas a oportunidade de se manifestarem, do jeito delas, e com elas também  aprendi, porque afinal  sou uma delas, fazemos parte da mesma tribo, "SOMOS TODAS MULHERES! 
Atualmente, praticamente  encerrando meu ciclo profissional, vejo que acertei na minha escolha, fui e ainda sou,  muito feliz  atuando profissionalmente nos diversos lugares por onde passei dentro da instituição. Mas,  confesso que tenho um xodozinho pela minha comunidade, essa  onde estou  e da qual já faço quase que parte dos móveis e utensílios. 

Lá conheci  grandes mulheres, minhas companheiras que depositaram em mim  a confiança de  passar suas   histórias vividas  dentro da comunidade, local onde nasceram e de onde nunca saíram. Tenho comigo um vasto material, um profundo  conhecimento do passado e do presente da vida dessas mulheres, minhas amigas, mulheres guerreiras, mães, avós e bisavós -  elas ficarão para sempre como uma boa lembrança de minha atuação na grande  comunidade - COMPLEXO SÃO CARLOS. 



Desejo que elas também mantenham guardadas dentro delas  as lembranças de nosso convívio, das nossas conversas, do nosso dia a dia, da troca de experiência. Acredito que eu aprendi muito mais com elas que nos livros, foi uma grande oportunidade que tive  de mergulhar no encantador mundo feminino.  

As mulheres, sempre as mulheres, nós somos seres capazes de transformar o mundo e torná-lo mais bonito ainda. Viva nós, viva todas as mulheres que carregam seus filhos nos braços pela vida afora, filhos e mães, combinação mais que perfeita em qualquer situação, em qualquer tempo. 

Ali descobri qualidades em mulheres humildes que passaram por  grandes perdas afetivas, que carregam dentro de si,  um sofrimento do tamanho do mundo, mas mesmo assim, nunca perderam a dignidade e a postura da VERDADEIRA MULHER que não se entrega,  não se dá por vencida, continua na luta em favor de outras causas, fortes demais essas minhas amigas queridas.
O que sei da vida de cada uma, jamais passarei prá frente, mas algumas  histórias de outras mulheres, conheço apenas pelas   notícias estão espalhadas pela mídia, o retrato de muitas  delas estampados  nos jornais, porém as críticas nem sempre são condizentes com a dura realidade dessas  mães. Na verdade, a preocupação gira somente em torno  da notícia, da manchete . É assim que acontece...

Felizmente,  a maioria dessas mulheres, como as do meu círculo de amigas e companheiras de grupo, são pessoas do bem, com famílias organizadas e felizes. São frutos da desigualdade social, mas possuem muita dignidade e respeito pelo próximo. Vivem contentes, sustentando  com o seu suor, a família, filhos, netos, sobrinhos, bisnetos e até  agregados...os homens?...Sabe-se lá?... Nem elas têm notícias, salvo raras excessões, como tudo na vida, nada é regra geral. 

Não podemos jamais generalizar nem o certo nem o errado porque existe o certo, o errado, o mais ou menos e ainda  existe  também uma grande diferença entre o real e o sonho, o possível e o impossível, e assim a vida de cada uma tem suas particularidades que não nos compete julgar, mas é nosso compromisso orientá-las para  que  consigam perceber todas as diferenças e  dessa forma tenham condições de construir seus próprios caminhos.
Agora   chegando ao final, não pensem que  me sinto confortável, achando que cumpri minha missão -  não se pode lutar por forças muitas vezes não entendidas aos nossos olhos. Esse é o meu grande questionamento...mas tenho a clareza de que fiz e ainda faço o  meu melhor  em pról do que me propus como profissional da área social.  
E deixo aqui meu eterno agradecimento a essas mulheres maravilhosas que trilharam comigo todo esse tempo, levarei dentro de mim a certeza de que tudo valeu muito a pena, até mesmo nos momentos que senti que não havia  mais apoio nem interesse  institucional e aí  restou  somente a nossa vontade de continuar juntas. Valeu demais, adoro vocês, adoro perceber os frutos colhidos, adoro a nossa garra e coragem de seguir, seguir lutando e buscando brechas para transformar sonhos em realidade. Foi possível, aconteceu e sou feliz demais com tudo isso.
Tudo que conquistamos  se deve porque nunca desistimos, corremos atrás  e nos momentos em que  os obstáculos ficaram maiores  enfrentamos com garra e determinação. Atualmente o grupo  está menor, mas  nos encontramos  e continuamos trocar idéias, experiências e ainda continuo ouvindo muitas histórias.


A mulher em qualquer situação social é uma presença marcante na sociedade, cumpre muito bem seu papel na vida e está sempre aberta para aprender , crescer e transformar para melhor sua vida e de sua família.


Dóra Helena