sexta-feira, 20 de março de 2015

" Eu no plural"



     Na vida um dia a gente acaba descobrindo que somos muitas num só  corpo. 
     Temos  nossos momentos,   aqueles
 que nos sentimos super alegres, animadérrimas, descoladas, cordias, simpáticas, resolvidas, práticas  espertas e muito mais.  Percebi, inclusive,  nessa reflexão, um outro lado meu, bem particular, que  vou confessar agora: adoro quando me vejo "insensata", prestem  atenção, a insensatez,   prá mim, funciona como um relaxante muscular na alma, alivia tudinho... Santo remédio, supera qualquer dorflex, podem crer no que estou aqui revelando baixinho , claro, baixinho para não  se espalhar por aí, ok? Vez por outra, um desatino  cai muito bem. Afinal, de que me serviria colecionar títulos e medalhas de mulher perfeita,  farei o que com isso?  Na verdade nem ao menos me trará     uma felicidade à altura do preço que pagarei para ser perfeita aos olhos e julgamentos dos outros. Quero  mesmo é ser correta e justa na medida certa, exageros não servem de parâmetros  para nenhuma avaliação. Portanto, vez por outra me permito uma boa  uma insensatez, e saibam, me sinto muito bem. Vou nas nuvens e depois, volto  ainda melhor, ulalá.


     De contra-partida, o meu outro lado, me deixa muitas  vezes  mais tristinha, pensativa, preocupada, séria, introspectiva, querendo colocar  em ordem os  meus armários e minhas gavetas,  me vejo pensando também em melhorar minha alimentação, cuidar mais de mim, na possibilidade de  mudar como ser humano, de ser  mais pontual,  em praticar yoga , ler mais livros , tentar me atualizar , entrar mais no mundo  novo, no mundo das mulheres  modernas,  bem assim,  isso,  radicalizar mesmo.  Em certos momentos ,sinto  que preciso  e gostaria de  algumas reformas práticas. Na verdade, nem me dei conta ainda  que  já estamos no século XXI, não notei nada de diferente no meu caminhar, é preocupante, claro, preciso  estar no tempo certo, as coisas mudaram ( mudaram?) e eu ainda não senti nenhuma transformação dentro de mim.Isso me causa certa estranheza.

    percebo porém, que tem um  novo modelo de  algumas mulheres mais moderninhas  por aí que  não me cabe: rir  alto,( ser escandalosa), falar cuspindo, andar com salto 15  com calça coladinha, e por aí vai...Definitivamente   isso não combina com meu padrão de comportamento, essa  mulher, nunca serei, com certeza.Nao faz minha cabeça. Aí nem me imagino, rejeito, me recuso. Esse modernismo não quero . 

     Mas reconheço que tenho mil facetas, e dependendo do meu estado de espírito posso mudar meu jeito de encarar a vida, mas, nada tão diferente do que acontece por aí, com a maioria das pessoas. Todos nós oscilamos em alguns momentos. Coisas naturais do ser humano, de acordo com o  estado de espírito , a  nossa cabeça pode dar uma virada, para melhorar ou piorar, e aí que mora o perigo. Precisamos ficar atentas.

     Na verdade, a minha preocupação é buscar meu bem estar, não me violentar, respeitar meus limites,   Busco selecionar as minhas amizades, ópto pelos programas que me identifico, sei dizer "não" quando não me sinto confortável, não tenho receio de parecer "careta" porque não faço ou não gosto de um monte de coisas que os outros gostam, faço minhas  escolhas, busco minha identidade, mas contudo, sei respeitar , acolher  e admirar a maneira de ser de cada um. Isso é muito importante, penso que  todos devem  ter a liberdade de escolha e fazer dentro do possível, somente o que 
mais gosta. A vida é curta demais e deve ser bem aproveitada. 

     Para concluir, entendo que não sou um modelo único e perfeito, sofro mutações,
vario de humor, passo por crises, me construo a todo instante, tenho tido, felizmente, possibilidades, chances, oportunidades e vontades para me conduzir. Arrisco, enfrento  e crio minha história.
     Pretendo   chegar ao topo da montanha pelo meu próprio mérito, ser  respeitada , espero me sentir  sempre  orgulhosa de minha  vida  e dar orgulho aos que me acompanham nessa viagem. Acredito que estou fazendo valer, que a soma dos meus " eus"estão alcaçando  um belo resultado final. Tudo está valendo, assim espero. Tenho me esforçado para ser uma pessoa do bem.

     Como cantou Caetano: 
" CADA UM SABE A DOR E A DELÍCIA DE SER O QUE É"

Dóra Helena

Rio, 20/03/2015




Dóra Helena

     




     

terça-feira, 3 de março de 2015

Meu Oscar





    Não vou entrar na questão do melhor filme de minha vida,  o que mais me agradou, porque  já assisti excelentes filmes  e em diversas categorias .Sempre fui assídua frequentadora das salas de cinema,  desde pequena ia pelo menos todos os domingos, portanto assisti ótimos e lindos filmes, o que  me impossibita fazer uma honesta escolha do melhor dos melhores. 
Prefiro mantê-los guardados  na minha memória. Até porque  com o passar do tempo, vamos  mudando  e os  nossos critérios se tornam mais seletivos. Na cabecinha de uma criança o nível de exigência nunca será  o tema . A fotografia sempre se sobrepoē ao conteúdo e por isso, tenho um carinho especial por LILI, que assisti quando era ainda pequena. Tinha alegria, colorido, dança, musica e emoção. Perfeito!!!!


     Sou da época que existia censura: livre, 10, 14 e dezoito anos. Era uma tortura, perdi muitos filmes por conta da idade. Depois passei a recorrer a  alguns recursos:  maquiagem, saltinho, fazer pose e  cara e de " gente grande",  mas mesmo assim, fui bastante barrada, voltei muitas vezes  chorando e  toda  borrocada da pintura que colocava  nos olhos para passar por mais velha. Minha companheira era a minha irmã, sempre juntas,  parceiras de cinemas e de uma vida inteira.

     A escolha dos filmes, do cinema, da sessão, da roupa e tudo mais fazia parte da nossa programação. Era muito bom tudo isso. E quando o filme estava passando no bairro de Botafogo a gente arriscava , mesmo sendo impróprio para nossa idade. Nos bairros  essa questão rolava  bem mais fácil. Mas a qualidade técnica deixava a desejar.O som, geralmente era  bastante prejudicado, mas para arriscar, até valia a pena, vai que dá certo? E muitas vezes deu.
Mas, claro que  havia muita diferença entre filmes  exibidos na Cinelândia ou em Copacabana, onde  se curtia uma bela imagem e um som maravilhoso.  Na medida que nós fomos  crescendo, fomos   apurando  certos  detalhes, gostávamos da história, da fotografia, música e do conforto de uma boa sala onde tudo era luxuoso. Naquela época, assistir um filme, era um programa, um evento aguardado ansiosamente por todos.
   
   Os cinemas ficavam lotados, não tinha lugar marcado, não se comprava ingressos com antecedência, não existia internet.  Para se assistir um a fita de sucesso, era super complicado, tínhamos que chegar cedo, as filas eram imensas, e a sala de espera quase uma tortura. Era desse jeito... E a gente curtia tudo isso, quanto melhor o filme mais concorrido.
     
   Nos cinemas de bairros, denominados popularmente de " poeiras",  a questão da idade, rolava mais leve, , faziam vista grossa, mas na antiga Cinelândia,  e em Copacabana não  davam  a menor chance, cobravam logo a certidão de nascimento e  aí, nem com um crédito de DEUS, eles  cediam. Um dos filmes que perdi  e chorei muito foi o "Balanço das Horas",  com Elvis Presley,  um  dos  meus primeiros ídolos. Isso se deu justamente  na minha fase de  começar a  receber  convites para as festinhas  e muitas  das minhas amiguinhas  eram  mais velhas  e ai,  me sentia deslocada, e as consideravam " exibidas".  Elas já entravam nos filmes proibidos para menores de 14 anos. E ficavam comentando  os filmes,  hummm... eu quase morria, nessa época, ainda estava frequentando curso primário. Eu  pirava, enlouquecia, se pudesse avançar no tempo, era tudo que  mais desejava, crescer logo, deixar  de ser a menina que eu era para trás ,  naquela época eu achava que tudo era lento demais, parecia que o tempo não passava, era   uma eternidade. Rezava para chegar aos 14 e 18 anos, nessa fase, a gente tem muita pressa mesmo. 

     Um dos filmes  proibidos para menores de 14 anos que consegui assistir foi o da Merilyn Monroe " Quanto mais quente Melhor" no cinema do meu bairro. Foi um espetáculo!!! Me senti nas nuvens, nem acreditei, milagre!!!! Nem preciso dizer que amei estar ali,  foi tudo de bom, me senti a tal. Sapato de saltinho, maquiagem, franjinha de lado e no lugar do rabo de cavalo, um coque tipo banana, kkkk, ridícula...mas feliz.

     Quando era mais nova, não era muito exigente na escolha do tema,  mas nunca gostei de filmes de bang -bang( faroeste) e de suspense, dos demais eu curtia todos. Vi muitas comédias românticas e muitos musicais. Vibrava,  bons tempos.

     Mas, o meu Oscar eu daria para o filme que mais  me marcou na infância. Talvez , se o assistisse agora,  nem acharia essa maravilha toda. Na ocasião, eu ainda não conseguia ler a legenda, daí criei uma história à parte, lembro que  tinha  bela música, passarinhos e uma dócil criatura (Leslie Caron), que fugiu de casa e foi parar num circo e  lá fez a sua moradia.Ainda me lembro do cine Plaza, na Cinelândia, da fila enorme, da nossa acompanhante, a madrinha de minha irmã. Tenho  ainda na lembrança a música,  e a beleza do cenário.  Para mim,  foi " o Filme" e com todo respeito,  eu ofereço  o meu OSCAR  particular  a atriz Leslie Caron . Por sua belíssima interpretação neste filme, ( 1953), foi indicada para o Oscar como melhor atriz, ela era  também cantora e bailarina e embora não tenha sido  a eleita para o
OSCAR, esse filme , abriu as portas para o sucesso de sua carreira.  E me fez ir às nuvens, saí feliz demais.

     Vendo   agora as fotos de Leslie Caron, me lembrei que segui seus cortes  de cabelo e penteados, coisas de jovem  que curte o seu ídolo .Sim, eu cresci admirando- a como atriz e continuei vendo seus filmes com muito interesse.

     Pesquisei  recentemente sobre sua vida e suas obras e agora posso afirmar  com certeza, que  ela foi reconhecidamente uma talentosa atriz.  Leslie Caron foi merecedora de todo o seu sucesso, fez bonito no cinema e na vida. E para ela que tanto bem me fez, meu eterno carinho. Sempre presente e viva na minha imaginação. Faleceu em 13 de agosto de 1982., aos 71 anos. Deve estar no meio  das estrelas, lá é o seu lugar.
   

     Hi Lili, hi Lili, hi ló


Dora Helena
23/02/2015