Algumas vezes certas interferências podem causar algum embaraço. Depende muito da ocasião e da predisposição de quem as recebem. Mesmo que elas surjam com o objetivo de clarificar e minimizar alguma situação, podem causar algum constrangimento ao outro.
Há de se cuidar das palavras, há que se cuidar da sensibilidade da pessoa . Certas situações são muito delicadas , e exige cautela para se lidar com elas.
É necessário se ater ao momento certo para a intervenção, perceber quando quando a situação deixou o outro muito vulnerável , ai a coisa fica mais séria, exige mais delicadeza de nossa parte, necessita de toda a nossa atenção e sutileza, é a hora que temos que ter muito cuidado, colocarmos o pé no freio e ir com muita calma. Se o outro já está castigado, prá que mexer na sua dor? O certo é esperar um pouco, emprestar o ouvido, o ombro e dar um tempo para a cicatrização, que sabemos vem de dentro.
Somos todos nesse quesito muito afoitos, imediatistas, queremos fazer o bem, temos pressa de aliviar a carga pesada que está nas costas de quem queremos bem, é bem assim,mas precisamos entender que até uma plantinha seca, precisa ser regada aos poucos, com cuidado, caso contrário, morrerá afogada. Acontece na natureza e também com o gênero humano, inclusive, nós, considerados seres evoluidos, estamos sujeitos a morrer afogados numa super dose de intervenção. Dá um nó na caixola e baú-baú, vai rapidinho para o espaço ou para o "Pinel".
Portanto, ter cautela com quem amamos é necessário, o sofrimento da criatura não está na mesma proporção do seu olhar, da sua maneira racional de analisar friamente algo que não está afetando seus sentimentos.
Ninguém tem como avaliar o que está dentro do outro, vê o problema com os olhos da razão, bem mais simples , nem de longe vai enxergar o estrago que a situação em pauta pode estar causando no outro. Não imagina que tudo que é tão óbvio para você pode ser muito grave para o outro.
Já imaginou o que uma ferida pulsando no peito, queimando, dilacerando de forma avassaladora pode causar dentro de uma pessoa? Por isso, "muito Cuidado quando for tocar nas feridas alheias"'. Jamais menospreze a angústia e o sofrimento de alguém, tente respeitar a sua dor, mesmo que ela lhe pareça insignificante, desnessária e absurda.
Não somos feitos de uma mesma forma, existem diferenças, principalmente na área dos afetos. Cada um tem suas porções para lidar com seus sentimentos, a sua capacidade de resistência, a maneira de
suportar suas dores, de esquecer mágoas, o passado, superar e levantar de suas quedas e das armadilhas da vida. São coisas que devem ser administradas com o tempo
e com muito zêlo.
O respeito é uma excelente forma de ajudar. ouvir nem se fala. Ouça e depois seja muito cauteloso nas interferências. É importante esperarmos o momento que o outro nos pergunte: : " o que acha que posso fazer por mim"? "O que faria no meu lugar"? Essa hora vai pintar, se a pessoa confia na sua capacidade de ajudá-la.Espere, é difícil eu sei, porque quando gostamos muito temos pressa em socorrer e tirar o amigo do sufoco, temos urgência, faz parte da solidariedade, da amizade, temos vontade de arrancar o sofrimento do amigo de estalo, de qualquer forma. Quando se gosta, sofremos junto, essa é uma das grandes provas de amizade, de parceria, de cumplicidade, só que não é o caminho correto à luz da razão. Mas, amigo não têm essa de saber esperar, quer tudo rápidamente solucionado. E ele sempre tem a melhor solução para o problema.
Misturar sentimento com razão é uma missão quase impossível. O bom Amigo não consegue só ouvir e não interferir, se esperar, não é amigo do peito, isso é papel para o TERAPÊUTA. A gente mistura tudo, erra querendo acertar, se envolve, dá palpite, quebra o pau e no final, chora junto, abraça e , quer saber? A verdade é que as tais " interferências" estão no nosso sangue latino. É assim que rola um sincero e belo sentimento à nossa moda.
E viva nós, viva as amizades , as interferências e que elas nuncam nos faltem. E vamos nessa!!!!
Dóra Helena Carqueijeira
Rio, 19/01/2016