domingo, 17 de janeiro de 2016

Interferências

       


      Algumas vezes certas  interferências podem causar algum embaraço. Depende muito da ocasião e da predisposição de quem as recebem. Mesmo que elas surjam com o objetivo  de clarificar e minimizar alguma situação, podem causar algum constrangimento ao outro. 

     Há de se cuidar das palavras, há que se cuidar da sensibilidade  da pessoa . Certas situações  são muito delicadas , e exige cautela para se lidar  com elas. 
     
     É necessário se ater ao momento certo para a intervenção, perceber quando  quando a situação deixou o outro muito vulnerável , ai a coisa fica mais séria, exige  mais delicadeza de nossa parte, necessita de toda a nossa atenção e sutileza, é a hora que temos que ter muito cuidado, colocarmos o pé no freio e ir com  muita calma. Se o outro já está castigado, prá que mexer na sua dor? O certo é esperar um pouco, emprestar o ouvido, o ombro e dar um tempo para a cicatrização, que  sabemos vem de dentro.

     Somos todos nesse quesito muito  afoitos,  imediatistas, queremos fazer o bem, temos pressa de aliviar a carga pesada que está  nas costas de quem queremos bem, é bem assim,mas  precisamos entender que até uma plantinha seca, precisa ser regada aos poucos,  com cuidado, caso contrário, morrerá  afogada. Acontece na natureza e também com o gênero humano,  inclusive, nós, considerados seres evoluidos,  estamos sujeitos a morrer afogados numa super dose de intervenção. Dá um nó na caixola e baú-baú, vai rapidinho para o espaço ou para o "Pinel".
     

     Portanto,  ter cautela com quem amamos é necessário,  o sofrimento da criatura não está na  mesma proporção do seu olhar, da sua maneira racional de analisar friamente algo que não está afetando seus sentimentos. 

        Ninguém tem como avaliar o que está dentro do outro, vê  o problema com os olhos da razão, bem mais simples , nem de longe vai enxergar o estrago que a situação em pauta pode estar causando no outro.  Não imagina que tudo que é tão óbvio para você pode ser  muito grave para o outro.

        Já imaginou o que uma ferida pulsando no peito, queimando, dilacerando de forma avassaladora pode causar dentro de uma pessoa?  Por isso,  "muito Cuidado quando for tocar nas feridas alheias"'. Jamais menospreze a angústia e o sofrimento de alguém, tente respeitar a  sua dor, mesmo que  ela lhe pareça insignificante, desnessária  e absurda.

     Não somos feitos de uma mesma forma, existem diferenças, principalmente na área dos afetos. Cada um tem  suas porções para lidar com seus sentimentos, a sua capacidade de resistência, a maneira de 
suportar suas dores, de esquecer mágoas, o passado, superar  e levantar de suas quedas e  das armadilhas da vida. São coisas que devem ser administradas com  o tempo
e com muito zêlo.



      O respeito é uma  excelente forma de ajudar. ouvir nem se fala. Ouça e  depois seja  muito cauteloso nas interferências. É importante esperarmos o momento que o outro nos pergunte: : " o que acha que posso fazer por mim"? "O que faria no meu lugar"? Essa hora vai pintar, se a pessoa confia na sua capacidade de ajudá-la.Espere, é difícil eu sei, porque  quando gostamos muito temos pressa em socorrer  e tirar o amigo do sufoco, temos urgência, faz parte da solidariedade, da amizade, temos vontade de arrancar o sofrimento  do amigo de estalo, de qualquer forma. Quando se gosta, sofremos junto, essa é  uma  das  grandes provas de amizade, de parceria, de cumplicidade, só que não é o caminho correto à luz da razão. Mas, amigo não têm essa de saber esperar, quer tudo rápidamente solucionado. E ele sempre tem a melhor solução para o problema. 

     Misturar sentimento com razão é uma missão quase impossível.  O bom Amigo  não consegue só ouvir e não interferir,  se esperar, não é amigo do peito, isso é papel para o TERAPÊUTA. A gente mistura tudo, erra querendo acertar, se envolve, dá palpite, quebra o pau e no final, chora junto, abraça e , quer saber? A verdade é que as tais " interferências"  estão no  nosso sangue latino. É assim  que rola um sincero e belo sentimento à nossa moda.

     E viva nós, viva as amizades , as interferências e que elas nuncam nos faltem. E vamos nessa!!!!


Dóra Helena Carqueijeira
Rio, 19/01/2016