Não vou entrar na questão do melhor filme de minha vida, o que mais me agradou, porque já assisti excelentes filmes e em diversas categorias .Sempre fui assídua frequentadora das salas de cinema, desde pequena ia pelo menos todos os domingos, portanto assisti ótimos e lindos filmes, o que me impossibita fazer uma honesta escolha do melhor dos melhores.
Prefiro mantê-los guardados na minha memória. Até porque com o passar do tempo, vamos mudando e os nossos critérios se tornam mais seletivos. Na cabecinha de uma criança o nível de exigência nunca será o tema . A fotografia sempre se sobrepoē ao conteúdo e por isso, tenho um carinho especial por LILI, que assisti quando era ainda pequena. Tinha alegria, colorido, dança, musica e emoção. Perfeito!!!!
Sou da época que existia censura: livre, 10, 14 e dezoito anos. Era uma tortura, perdi muitos filmes por conta da idade. Depois passei a recorrer a alguns recursos: maquiagem, saltinho, fazer pose e cara e de " gente grande", mas mesmo assim, fui bastante barrada, voltei muitas vezes chorando e toda borrocada da pintura que colocava nos olhos para passar por mais velha. Minha companheira era a minha irmã, sempre juntas, parceiras de cinemas e de uma vida inteira.
A escolha dos filmes, do cinema, da sessão, da roupa e tudo mais fazia parte da nossa programação. Era muito bom tudo isso. E quando o filme estava passando no bairro de Botafogo a gente arriscava , mesmo sendo impróprio para nossa idade. Nos bairros essa questão rolava bem mais fácil. Mas a qualidade técnica deixava a desejar.O som, geralmente era bastante prejudicado, mas para arriscar, até valia a pena, vai que dá certo? E muitas vezes deu.
Mas, claro que havia muita diferença entre filmes exibidos na Cinelândia ou em Copacabana, onde se curtia uma bela imagem e um som maravilhoso. Na medida que nós fomos crescendo, fomos apurando certos detalhes, gostávamos da história, da fotografia, música e do conforto de uma boa sala onde tudo era luxuoso. Naquela época, assistir um filme, era um programa, um evento aguardado ansiosamente por todos.
Os cinemas ficavam lotados, não tinha lugar marcado, não se comprava ingressos com antecedência, não existia internet. Para se assistir um a fita de sucesso, era super complicado, tínhamos que chegar cedo, as filas eram imensas, e a sala de espera quase uma tortura. Era desse jeito... E a gente curtia tudo isso, quanto melhor o filme mais concorrido.
Nos cinemas de bairros, denominados popularmente de " poeiras", a questão da idade, rolava mais leve, , faziam vista grossa, mas na antiga Cinelândia, e em Copacabana não davam a menor chance, cobravam logo a certidão de nascimento e aí, nem com um crédito de DEUS, eles cediam. Um dos filmes que perdi e chorei muito foi o "Balanço das Horas", com Elvis Presley, um dos meus primeiros ídolos. Isso se deu justamente na minha fase de começar a receber convites para as festinhas e muitas das minhas amiguinhas eram mais velhas e ai, me sentia deslocada, e as consideravam " exibidas". Elas já entravam nos filmes proibidos para menores de 14 anos. E ficavam comentando os filmes, hummm... eu quase morria, nessa época, ainda estava frequentando curso primário. Eu pirava, enlouquecia, se pudesse avançar no tempo, era tudo que mais desejava, crescer logo, deixar de ser a menina que eu era para trás , naquela época eu achava que tudo era lento demais, parecia que o tempo não passava, era uma eternidade. Rezava para chegar aos 14 e 18 anos, nessa fase, a gente tem muita pressa mesmo.
Um dos filmes proibidos para menores de 14 anos que consegui assistir foi o da Merilyn Monroe " Quanto mais quente Melhor" no cinema do meu bairro. Foi um espetáculo!!! Me senti nas nuvens, nem acreditei, milagre!!!! Nem preciso dizer que amei estar ali, foi tudo de bom, me senti a tal. Sapato de saltinho, maquiagem, franjinha de lado e no lugar do rabo de cavalo, um coque tipo banana, kkkk, ridícula...mas feliz.
Quando era mais nova, não era muito exigente na escolha do tema, mas nunca gostei de filmes de bang -bang( faroeste) e de suspense, dos demais eu curtia todos. Vi muitas comédias românticas e muitos musicais. Vibrava, bons tempos.
Mas, o meu Oscar eu daria para o filme que mais me marcou na infância. Talvez , se o assistisse agora, nem acharia essa maravilha toda. Na ocasião, eu ainda não conseguia ler a legenda, daí criei uma história à parte, lembro que tinha bela música, passarinhos e uma dócil criatura (Leslie Caron), que fugiu de casa e foi parar num circo e lá fez a sua moradia.Ainda me lembro do cine Plaza, na Cinelândia, da fila enorme, da nossa acompanhante, a madrinha de minha irmã. Tenho ainda na lembrança a música, e a beleza do cenário. Para mim, foi " o Filme" e com todo respeito, eu ofereço o meu OSCAR particular a atriz Leslie Caron . Por sua belíssima interpretação neste filme, ( 1953), foi indicada para o Oscar como melhor atriz, ela era também cantora e bailarina e embora não tenha sido a eleita para o
OSCAR, esse filme , abriu as portas para o sucesso de sua carreira. E me fez ir às nuvens, saí feliz demais.
Vendo agora as fotos de Leslie Caron, me lembrei que segui seus cortes de cabelo e penteados, coisas de jovem que curte o seu ídolo .Sim, eu cresci admirando- a como atriz e continuei vendo seus filmes com muito interesse.
Pesquisei recentemente sobre sua vida e suas obras e agora posso afirmar com certeza, que ela foi reconhecidamente uma talentosa atriz. Leslie Caron foi merecedora de todo o seu sucesso, fez bonito no cinema e na vida. E para ela que tanto bem me fez, meu eterno carinho. Sempre presente e viva na minha imaginação. Faleceu em 13 de agosto de 1982., aos 71 anos. Deve estar no meio das estrelas, lá é o seu lugar.
Hi Lili, hi Lili, hi ló
Dora Helena
23/02/2015
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