sábado, 5 de março de 2016

Amizade

     

       Não adianta argumentar a distância, para nós isso nunca foi um fator relevante, sempre demos o  nosso  jeito para transpor  as possíveis barreiras. Antigamente, o
único recurso era o Correio, cartas prá lá, cartas prá cá e levava pelo menos uma semana para a notícia chegar no seu
destino. Sim, era esse o nosso meio de comunicação, a carta simples, indo  e vindo via terrestre, numa época que não podíamos contar com interurbanos,  nem tínhamos telefone em casa, quando muito, enviávamos telegramas, com as palavras contadas, sem ponto ou vírgula, para ficar mais em conta.Tínhamos nossos códigos, uma entendia a outra, não precisávamos de muitas palavras, exceto nas intermináveis cartas, verdadeiras obras literárias. Uma vida inteira  contada via  correspondência. 
     
     Tudo isso era muito bom. Adorava chegar da escola e pegar aquele envelope pesado, tudo registrado no papel.A gente lia e parecia que estávamos juntas. Ali dentro
cabia a nossa vida inteira, muitas histórias engraçadas, outras dramáticas,
 porque na  nossa adolescência tudo foi
vivido com muita efervecência.A vida era intensa, cheia de emoções. gostávamos de viver. Fazíamos acontecer, hahaha.... até parece, hoje vejo como éramos inocentes comparando com os dias de hoje. Éramos duas  adolescentes cheias de ideais
para o nosso futuro.sonhávamos em conquistar o mundo. E até conquistamos muito, respeitando as devidas proporções e dimensões dos nossos propósitos.

     E assim o tempo foi se revelando para nós, aprendemos muito juntas, trocamos experiências, realizamos alguns dos nossos sonhos, porque  afinal, eram muitos, não iam caber mesmo numa só existência, vamos ter que voltar para alcançar alguns que a vida ficou nos devendo. A gente queria abraçar o mundo, nossa criatividade era fecunda. A juventude parecia ser eterna, tínhamos o tempo ao nosso dispor.

     Hoje, já maduras o suficiente,  entendemos que  nessa vida nem tudo é possível, mas eu creio que aquelas duas meninas ainda moram dentro de nós,  percebo que temos sonhos em construções, graças à Deus.Nuca deixamos  e nem deixaremos nada por conta do acaso, estamos sempre "esperneando", travando  grandes lutas para alcançarmos o que desejamos. 

     Na nossa bagagem nunca depositamos o medo, a fraqueza nem o desamor. Pelo contrário,  até hoje, acreditamos e apostamos  nos nossos projetos " até nos quase impossíveis". Somos veteranas de guerra, sobrevivemos, viemos de uma outra época, mas acompanhamos a evolução,  nos atualizamos todos os dias, a reciclagem se faz necessária no mundo contemporâneo.Parar no tempo, jamais!


     Agora trocamos as cartas pela comunicação via internet ou simplesmente pelo celular e, quando a saudade aperta não precisamos mais de uma semana de espera, basta  discarmos o número do tefone ou enviar uma mensagem. Coisa boa esse modernismo. Para nós foi a salvação da lavoura. Entramos em contato uma com a outra a hora que quisermos . Temos o mundo ao nosso dispor. Graças aos avanços tecnológicos, tudo mudou. Tchau Correios.

         A nossa amizade foi construida tijolinho por tijolinho, com muito respeito, honestidade, simplicidade, afeto, e admiração. Por isso se mantém . Jamais  se 
modificou  nem tampouco se banalizou. Ela tem raízes fortes,  podemos também compará-la com o rio,  que corre cumprindo seu papel,  seguindo seu curso sem destruir o bem maior, a natureza. Nós seguimos  o
nosso , a vida  infelizmente, não nos deu o privilégio da presença física, mas criou afluentes, nos pertencemos, nos valemos em todos os momentos.  Estamos juntas. Isso é o que conta.  🙏

       Obrigada Dorinha, somos peças valiosas não de museus, mas de sentimentos, valores e permanência. A minha alegria é imensa em ter você como uma grande e especial
Amiga de sempre. Minha comadre querida.
 
Rio, 4 de março de 2016

Dóra Helena




     


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